A traça poliglota
Sérgio Caparelli
Uma traça, de trança,
Fez a mala
Foi à França.
Não sabendo falar francês,
Comeu um dicionário
De inglês.
MENININHO DOENTE
Mario Quintana
Na minha rua há um menininho doente.
Enquanto os outros partem para a escola,
Junto à janela, sonhadoramente,
Ele ouve o sapateiro bater sola.
Ouve também o carpinteiro, em frente,
Que uma canção napolitana engrola.
E pouco a pouco, gradativamente,
O sofrimento que ele tem se evola...
Mas nesta rua há um operário triste:
Não canta nada na manhã sonora
E o menino nem sonha que ele existe.
Ele trabalha silenciosamente...
E está compondo este soneto agora,
Pra alminha boa do menino doente...
DAS FALSAS POSIÇÕES
Mario Quintana
Com a pele do leão vestiu-se o burro um dia.
Porém no seu encalço, a cada instante e hora,
"Olha o burro! Fiau! Fiau!" gritava a bicharia...
Tinha o parvo esquecido as orelhas de fora!
CANÇÃO DE GAROA
Mario Quintana
Em cima do meu telhado,
Pirulin lulin lulin
Um anjo, todo molhado,
Soluça no seu flautim.
O relógio vai bater:
As molas rangem sem fim.
O retrato na parede
Fica olhando para mim.
E chove sem saber por quê...
E tudo foi sempre assim!
Parece que vou sofrer:
Pirulin lulin lulin
RUA DOS CATAVENTOS - II
Mario Quintana
Dorme, ruazinha... É tudo escuro...
E os meus passos, quem é que pode ouvi-los?
Dorme o teu sono sossegado e puro,
Com teus lampiões, com teus jardins tranqüilos...
Dorme... Não há ladrões, eu te asseguro...
Nem guardas para acaso persegui-los...
Na noite alta, como sobre um muro,
As estrelinhas cantam como grilos...
O vento está dormindo na calçada,
O vento enovelou-se como um cão...
Dorme ruazinha... Não há nada...
Só os meus passos... Mas tão leves são
Que até parecem, pela madrugada,
Os da minha futura assombração...
O ESPELHO
Mario Quintana
E como eu passasse por diante do espelho
não vi meu quarto com as suas estantes
nem este meu rosto
onde escorre o tempo.
Vi primeiro uns retratos na parede:
janelas onde olham avós hirsutos
e as vovozinhas de saia-balão
como pára-quedistas às avessas que subissem do fundo do tempo.
O relógio marcava a hora
mas não dizia o dia. O Tempo,
desconcertado,
estava parado.
Sim, estava parado
em cima do telhado...
como um catavento que perdeu as asas!
A CANÇÃO DOS TAMANQUINHOS
Cecília Meireles
Troc… troc… troc… troc…
ligeirinhos, ligeirinhos,
troc… troc… troc… troc…
vão cantando os tamanquinhos…
Madrugada. Troc… troc…
pelas portas dos vizinhos
vão batendo, Troc… troc…
vão cantando os tamanquinhos…
Chove. Troc… troc… troc…
no silêncio dos caminhos
alagados, troc… troc…
vão cantando os tamanquinhos…
E até mesmo, troc… troc…
os que têm sedas e arminhos,
sonham, troc… troc… troc…
com seu par de tamanquinhos…
A bailarina
Cecília Meireles
Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.
Não conhece nem dó nem ré
mas sabe ficar na ponta do pé.
Não conhece nem mi nem fá
Mas inclina o corpo para cá e para lá.
Não conhece nem lá nem si,
mas fecha os olhos e sorri.
Roda, roda, roda, com os bracinhos no ar
e não fica tonta nem sai do lugar.
Põe no cabelo uma estrela e um véu
e diz que caiu do céu.
Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.
Mas depois esquece todas as danças,
e também quer dormir como as outras crianças.
A arteira e a arte
Dilan Camargo
Mamãe me empresta tua bolsa
teu colar e teus sapatos
depois me passa batom
que vou tirar um retrato.
Deixa eu me olhar no espelho
deixa só por um instante.
Quero batom mais vermelho
quero um colar mais brilhante.
A sala é uma passarela
requebro e faço proeza
sou artista de novela
a rainha da beleza.
Será que o sonho termina
quando desço dos sapatos?
Será que baixa a cortina
quando chega o fim do ato?
Valsa da vassoura
Dilan Camargo
Senhora Dona Vassoura
Elegante Dama Loura
ao vê-la assim tão linda
minha tristeza se finda.
Vamos dançar uma valsa?
Pra poder acompanhá-la
este jovem se descalça
com medo de pisá-la.
Deixe enlaçar, dançarina
a sua cintura fina.
Deixe tomar , bem sensíveis
os seus braços invisíveis.
Ao soar a melodia
surpresa todos verão:
rodopia, rodopia
um belo par no salão.
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